sábado, 29 de outubro de 2011

A MENINA DO PORTO


A MENINA DO PORTO

A menina do porto encontrou o seu homem
seguindo o rastro do sol no amanhecer.
E num momento único deu a ele as suas mãos
e ofereceu o seu corpo.
Eis me aqui! Dança comigo?
Voe, me acompanhe, sou poetisa e pássaro,
sem pecado e sem culpa.
És o lobo do mar ancorando no meu peito.
Dispa-me e vem brincar comigo. Quero-te agora.
Marca o meu coração como uma tatuagem
e ocupe o seu lugar no coração dessa sonhadora menina.
Essa minha vontade de te amar agora
me deu asas e marcou tua presença em mim.
Provocou essa ousadia urgente de te amar.
Assim, desse jeito, com sentimento de uma única vez,
quero me entregar sem arrependimento.
O prazer me faz chorar sem constrangimento,
e derramar lágrimas por ter você aqui dentro.
Se eu pudesse viveria para sempre esse amor cigano,
navegando sonhadora, pelos mares e pelas nuvens,
num momento único, fazendo um rapel nas estrelas.
Viajando juntos nesse momento,
você libertou a borboleta enclausurada
que se transformou numa mulher,
devassa, insana, selvagem e erótica,
domadora, dominadora, que oferece os seios
como uma armadilha para conquistar alvo do seu amor
e deixar impregnado nele todo o seu odor.
E, juntos, nesse encontro de sexo,
um passeio pelo orgasmo,
para se conhecer melhor.
Assim como a fêmea que sente a necessidade do macho,
pede, sem pudor, e mostra todos os seus argumentos
e tentações que pode oferecer.
Vai e volta, agora eu sou a sua mulher.

LEMBRANÇA DO SAUDOSO NETO


LEMBRANÇA DO SAUDOSO NETO

Viviam lá, no meio do mato, eles e um cãozinho,
uma vida feliz, construída com amor e união.
Muitos passarinhos iam sempre visitar o seu cantinho,
para comer de manhãzinha, as migalhas do pão,
que lhes jogavam com muita satisfação.
Quando o sol se despedia com a algazarra da passarada,
a luz do candeeiro lhes era bastante àquela hora,
iluminando o suficiente aos afazeres e mais nada,
enquanto a noite e a imensidão de estrelas não iam embora.
O tempo, por lá, deu um longo passeio, um estirão.
Dava a impressão que os ponteiros do relógio
diziam as horas ao compasso do seu coração.
A tristeza foi companheira quando vieram para a cidade.
Quando a história bem vivida, sucumbiu ao marasmo doentio,
até que a morte levou meus queridos avós,creio, por piedade.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

PLENITUDE


PLENITUDE

Agora eu compreendi.
A estrela não é você,
tampouco eu isoladamente.
Somos os dois.
Conjunção da mulher e do homem
deitados no firmamento
em harmonioso pensamento.
Conspiração do amor e desejo,
de licores e cheiros.
Uma constelação luzente, assim de repente.
A constatação de que o prazer
é a complementação do querer pelo receber.

QUELUZ


QUELUZ

Já vinham há algum tempo
caminhando bem juntinho,
pintando um quadro de encantamento,
o rio e os trilhos do trenzinho.
Até que o comboio preguiçoso,
atravessou a ponte com o sol à meia-luz
eis que o riozinho tem o dever gostoso
de banhar a beleza das mulheres de Queluz.
E lá fomos, eu e minha bela ao lugar incomum,
que até parecia estar em festa,
com a água bordando de branco, na orla das pedras, um debrum.
Um coro de passarinhos certamente tinha a intenção,
assim como as garças sobrevoando o serpenteante riozinho,
de encher os nossos corações de carinho e emoção.

domingo, 2 de outubro de 2011

CAIXA DE PANDORA

CAIXA DE PANDORA

A mulher foi um presente
que o homem dos deuses recebeu,
e tudo mudou assim de repente,
o paraíso em que vivia enlouqueceu.
Ganhou de Minerva a vida
e, também, a arte dos encantos.
Vênus lhe deu a beleza,
o desejo indomável.
Os demais, a voz suave,
o poder de persuasão e outros tantos:
artimanha, sedução e vaidade inigualável.
Recebeu por tudo isso,
o que o homem hoje adora,
por significar o poder de todos os dons,
o nome apropriado de Pandora.
Ao homem, no baú que ela trouxe
do Olimpo como presente,
e que, por curiosidade,
fez abrir e espalhar o conteúdo,
para não sucumbir aos malefícios,
restou a esperança, felizmente.

OCÊ VAI CASÁ CUMIGU?

OCÊ VAI CASÁ CUMIGU?

Naquele dia que nos fomo festejá
pra modi comemorá o São João.
Aquela muié bunita quinem a santa
mi arrastô toda afoita pro meio do arraiá.
Deixei um par de vala lá na terra
qui não era pra mó di plantá semente não,
foi meus dois pé de sapato que riscaro assim o chão.
Ieu, fingia qui num quiria,
mas impurrava o corpo im frente
prela num disistí e mi deixa quinem bobão.
Meu coração estava aos pulo,
mas acho qui era pra mó di dá conta da emoção.
Tirava o chapéu da cabeça
pra ocupá a minha mão,
mas botava lá dinovo e
a otra logo tamem pegava, pra num ficá vazia não.
Quando os meus braço incabuladu
si inchero de valentia
e abraçaro todo aquele corpão,
num quiria era largá mais não.
Nem ouvia as música acabá,
tava lá garrado quinem erva di Passarim.
E apesar dus pulo qui ela dava,
qui eu pensava qui era seu jeitin di varsá,
tava mais é saino fora
dus meu pisão no seu dedão.
Até qui a moça mostranu pru qui veio,
foi logo dano o seu jeito
di mi puxá lá prum canto,
pra modi nois acertá uns tratamento,
mas foi logo preguntano,
já qui eu tava dano trela,
si eu ia mi casá cum ela.
Du jeito qui eu tava,
Adispois qui intrei na dança,
prumeti inté o qui eu sei
a minha mão num arcança,
mas pelo menos apruveitei
toda a gostosura da festança.